segunda-feira, 5 de março de 2012

Diário de uma Madrinha – 05.03.2012


Estávamos eu e a Ana vendo TV no meu quarto. Saí pra ir ao banheiro e, quando voltei, a TV estava desligada. Estranhei, pois o comum é a Ana ligar até mesmo se eu não estiver no quarto.
Perguntei: - Ana, porque a TV está desligada?!
E ela, séria, com pouca paciência: - “Não é aconselhavel para menores de 10 anos”.
“Ah!”, fiz eu, e contive um sorriso.
É claro que se fosse eu já iria transgredir a ' regra', mas ela, correta, ciosa do que é certo e errado, ingenuamente, nem mesmo mudou de canal, mas desligou e ficou lá, sozinha, em silêncio, me esperando...Não é bonitinha?
Outra da Ana é que ela disse pra sua mãe que não queria mais ser médica quando crescesse, mas dona de restaurante!
E já tinha tudo planejado, até os uniformes! Seriam marrons, 'com manguinha aqui,' faz ela o gesto da altura no braço. A mãe achou que marrom não ficaria bem e mudaram pra branco.
Ana definiu o que cada um da família faria (sim, seria uma empresa familiar):
- A vovó Doraci, fará os pratos, os salgados, do restaurante, a comida. Eu (ela, Ana) farei as sobremesas, os doces. A mamãe será a garçonete que servirá as mesas. O papai, ficará no caixa.
  • E o vovô? Perguntam. Ela pensa um pouco e diz:
  • Deixa que eu vou arrumar uma coisa pra ti fazer! No meio do almoço, onde essa conversa teve continuidade, ela diz, eufórica e decidida:
  • Já sei o que o vovô vai fazer. Ele tem uma gaitinha, né? Ele sabe tocar, né? Ele vai ficar lá na frente pra chamar as pessoas.
A vovó Doraci diz que o tio Dé pode ser o gerente e ela, inocentemente, pergunta:
  • O que é um gerente? Respondida essa questão, ela bate o martelo. Ele pode ser o gerente, sim.
  • E a tia Déia? Perguntam, o que fará?
  • Ela, cuidadosamente, diz: - se ela quiser (mas só se ela quiser), ela pode lavar a louça. Mas só se ela quiser!
  • E o nome do restaurante, Ana? Perguntam.
  • Vai ser “Rango de Batalha”! Muitos risos depois, ela decidiu mudar pra “Rango da Hora”.
Num fim de semana destes, passou no jornal da TV uma notícia triste. Uma menina de 3 anos, indo pela primeira vez a praia com os pais, foi atropelada por um jet ski desgovernado, pilotado por um rapaz de 14 anos. Ela estava na areia, deitada, e morreu na hora. Ana assistiu a reportagem e ficou muito chocada. Ela adora crianças.
Mais tarde, ela entrou no meu quarto, com uma toalha de rosto enrolada em baixo do braço, carinha triste. Eu entre divertida e preocupada, perguntei pra quê aquela toalha, pedi pra ela colocar de volta no lugar. Ela me faz um sinal, pedindo pra parar de falar e diz que já chorou 8 (!) vezes !
Insisto e ela repete o gesto pra eu parar de falar. Depois diz que não pode falar, senão vai começar a chorar de novo. Pede licença, os olhos lacrimejando e sai pro corredor. Retorna meio minuto depois. Esta cena se repetiu 3 vezes, até que resolvi dar um basta e falar sério com ela. Aí, ela teve 'forças' pra me explicar o que era.
  • É que... uma menina...que nunca foi na praia, que foi a primeira vez, e morreu, e eu já fui mil vezes (!)
Compreendi a solidariedade dela, tanta sensibilidade, tanta empatia, mas achei meio dramática, bem ao gosto da Ana...
Eu a consolei, expliquei algumas coisas pra ela sobre hora da morte, dizendo que todos nós temos a nossa hora, embora não saibamos, e isso a confortou. Depois, ao ver um cachorro morrer num filme ela mostrou ter aprendido bem a lição e disse: - tava na hora dele, né?
Hoje, Ana fará sua primeira prova na escola. Nem estava nervosa e parecia achar tudo divertido.
Seu dente inciviso superior direito está mole também.
  • Quer colocar a mão no meu dente mole, tia? pergunta ela, sem meias palavras.
  • Não, Ana! Respondo entre divertida e surpresa.
  • A vovó Doraci quis...
  • Mas eu não quero!
Ela comeu um pedaço de chocolate que estava na geladeira e logo comentou comigo:
  • Eu queria morder este chocolate com meu dente mole, pra ele cair de uma vez... (Apesar da intenção, acho que ela não teve coragem).
Então, entre dentes de leite caindo e primeira prova na escola, nossa Ana está crescendo...Que pena...
Beijo da Tia, Ana!

Diário de Uma Madrinha - 23 de Janeiro de 2011




Estávamos eu e a Ana escolhendo um brinquedo para ela pelo Dia das Crianças, na internet.
É mais fácil assim, quando a criança visualiza as opções e vai escolhendo. Montamos uma lista em que consta uma foto do brinquedo, onde encontrar e o preço. Depois é só distribuir pros familiares. Adoro coisas práticas!
Mas, como dizia, montávamos a tal lista pra Ana. Num site ela gostou de uma boneca (tem muita preferência por bonecas, ao invés de outros brinquedos, talvez por ser muito maternal), cheia de dispositivos, fazia muitas coisas, falava muitas frases, etc. Eu vetei, dizendo pra ela:
- Ah, essa não, Ana. Essa é muito cara! Vê só: falta só 0,10 centavos pra R$ 300, 00!
E ela, muito rápida e parecendo feliz por ter achado a solução perfeita:
- Eu tenho os 0,10 centavos!
Uma coisa que gosto na Ana é sua lealdade. Ela não admite que ninguém fale mal de outra pessoa, que ela considere seu amigo, na frente dela. Mesmo quando ela concorda com o que a pessoa está dizendo, o máximo que faz é sorrir sem graça, mas não fala nada. Isso reflete bem seu caráter, sua personalidade, seus valores.
Também é muito diplomática, desde bem pequenininha, e sabe contornar uma situação pra não ofender alguém.
Detesta despedidas. Emociona-se, fica meio inconsolável em certas ocasiões, quando está mais sensível. A impressão que se tem ao olhar a cena é de que ela nunca mais verá aquela pessoa.
É muito carinhosa e adora chamegos também.
Não é muito persistente e logo desiste se algo está difícil, mas nos impressionou quando decidiu que queria que tirassem as rodinhas de suas bicicleta. Está com 6 anos e certamente isso já seria motivo suficiente pra não precisar mais andar com uma bicicleta com rodinhas, né? Seria muita humilhação!
O vovô fez o que ela pediu num fim de semana, e ela caía, levantava e seguia firme em sua decisão de aprender, até que...conseguiu! Viva! Que vitória!

Diário de uma Madrinha – 12 de janeiro de 2012



Ana está com 6 anos. Já lê com perfeição e foi, inclusive, convidada a ser a oradora da turma em sua formatura em dezembro, juntamente com um colega, Juan (que também foi seu par na festa junina). Continua lendo tudo que cai em suas mãos, deixando entrever que será voraz leitora (como a tia, claro...)
Sua última professora no Colégio Baluarte ( que ela frequentou desde os 2 anos e meio) foi a Tia Nasa e com ela Ana aprendeu as primeiras letras, tendo muito carinho por essa mestra, por que ela é disciplinadora, mas também paciente e amiga. Fica muito estranho (e engraçado) quando no meio de uma conversa Ana ergue o dedinho pedindo pra falar. Naturalmente isso ela aprendeu no Colégio, com sua Tia Nasa, mas fica fora de contexto quando não se está na escola...
No Baluarte fez muitos amigos, iniciou sua ' vida social ' propriamente dita e aprendeu desde comportamento até a ler e escrever.
Mas tudo que tem começo, tem um fim e chegou ao fim sua parceria com o Baluarte. Neste ano iniciará nova fase em sua vidinha, mudando de colégio, pois precisa continuar seus estudos e o colégio anterior não tem ainda as séries iniciais. Por isso, ela agora fará parte do Reino Azul, um colégio com nome de historinha do Sítio do Picapau Amarelo. Muitos de seus amigos irão acompanhá-la nesta mudança e, juntos, iniciarão novo ciclo.
Estávamos eu e Ana na casa da praia, onde passamos o reveillon. Na varanda, eu e ela aguardávamos por nossa vez de tomar banho. Olhávamos a chuva e Ana, subitamente, ergue seu vestido e estica o elástico da calcinha, aparando as gotas do telhado com ela. Eu me surpreendo e pergunto: “- O que é isso, Ana?!” e ela, muito prática e rápida, como sempre responde: “- eu tô lavando a 'pepeca', pra já ir adiantando pro banho...”
Ontem foi o aniversário de seu pai. Ele nos contou que Ana aproximou-se dele e disse que gostaria de lhe dar um presente, mas não sabe comprar nada e achou melhor lhe dar 'tudo o que ela tinha'. Abriu a bolsinha e de lá tirou duas notas de R$ 2,00 e uma moeda de R$ 1,00, totalizando os R$ 5,00 reais que sua avó Doraci lhe dera pra comprar picolé na praia e ela não gastara. Ao entregar o 'presente-dinheiro' Ana ressaltou: “- Ó, papai. Isso é tudo o que eu tenho.”
Ana ainda preocupou-se se daria pra comprar um presente com aquele dinheiro e Alexandre, emocionado, lhe confirmou que compraria muitos picolés com aquilo tudo e ela empolgou-se, mal acreditando.
Outro dia eu e ela estávamos assistindo um seriado que ela gosta na TV e apareceu um menino de terno e gravata, cabelo loiro e escorrido e ela aponta rápida pra ele e me diz: eu acho ele um gatinho!
Ela continua muito interessada em meninos, bebês, casamento e tudo que se relaciona com família. Na praia ela já tinha me dito que seu tipo preferido seria um homem de terno e gravata e cabelo com franja penteada para o lado, bem comprida, como a do Justin Bieber. Agora sei de onde ela tirou essa imagem do ' homem ideal' …
Antes desse episódio da TV, cerca de uns 15 dias antes, estávamos na sala, em casa, e anunciam na TV o cantor Luan Santana. Ela estava de costas, cuidando de sua ' filhinha' e virou-se rápida pra vê-lo. Eu, brincando com ela perguntei se ela gostava dele, se o achava bonito e ela disse que gostava de suas músicas. Eu insisti eela acabou por admitir que também o achava bonito. Eu, bem fofoqueira, contei pros outros, que riram e ela logo me corta, meio constrangida, meio zangada, se justificando: “ - o que é que tem se eu gostar dele? Se eu achar ele bonitinho? O que é que tem isso demais? Eu gosto das MÚSICAS dele, já disse.”
Depois (quando estávamos novamente sozinhas) me disse que não acha ele muito bonito, não, por que ele usa aparelho nos dentes e ela 'não gosta de homem com aparelho nos dentes'. Preferia o Justin Bieber.
Adoro a cara que ela faz sempre que está se divertindo com alguma coisa. Como quando jogava dominó com sua avó Doraci e esta, num descuido, vira-se pra ajeitar a cadeira. Ana, rápida, pega todas as pedras do dominó que havia 'comprado' e devolve para o centro. A avó percebeu e ela riu divertida.
Ou quando o vovô a coloca sobre os joelhos e cavalga. Quando ele pára, ela faz aquela carinha que eu adoro e diz: “- De novo!”
Ana tem muitos comportamentos de adolescente já aos 6 anos, o que é surpreendente para uma criança, mas como é precoce em tudo e tremendamente inteligente, já estamos nos habituando com isso. Resta-nos saber se na adolescência verdadeira, será mais comedida, sem a famosa fase conturbada que se segue...
Ana, beijo da Tia Déia!