terça-feira, 22 de maio de 2012

DIÁRIO DE UMA MADRINHA – ABRIL/MAIO 2012




Ana está agora com 6 anos e meio.

Estava dando banho nela, no fim de semana, quando me conta que na sua sala, na escola, tem uma menina com deficiência auditiva. Travamos o seguinte diálogo:

  • Sabias, tia, que na minha sala tem uma menina que é surda? Ela é especial. Sabe como que a gente fala com ela? Pelos sinais, com as mãos, a língua de sinais, por que ela não escuta.

  • Ah, Ana, mas sabe o que eu acho que é a pior das coisas? É alguém ser cego. Deve ser muito ruim, né?

  • É. Cego nem pode ler nada. Nem pode ler gibi! Só fica lendo aqueles livros cheios de buracos...

O pai da Ana quebrou um dedo da mão direita numa brincadeira com ela. Calma! Não foi ela quem fez isso, não! Foi um acidente.

Então, Ana perguntou para sua mãe, muito séria:

  • Mamãe, o papai tá tomando aquele remédio é pra tirar a dor ou é pra esquecer o que aconteceu?

Uma qualidade que Ana tem é ser prestativa. Sempre que peço: “Ana, me faz um favor?” Invariavelmente a resposta dela é: “Claro!” Sem nem mesmo saber o que é, ela sempre concorda. Pode até ser que depois nem queira fazer o favor, alegando estar 'cansada', mas sempre se predispõe. Uma outra coisa é que sempre que peço para ela sair de algum lugar, como o meu quarto, por exemplo, por qualquer motivo (que nem tenha a ver com ela, é apenas uma conveniência), ela sempre aceita, sem discutir. Enquanto eu, a 'adulta', estou sempre negociando, nunca aceito sem que me justifiquem muito bem, ela nem pergunta nada, apenas vira as costas e sai. Isso desde bem pequena, nunca discute sobre isso. Em relação a outras coisas, ela é até bem teimosa, insistente, mas quanto a isso, não. É bem compreensiva.

É muito amorosa, sempre fazendo cartinhas, cartões, desenhando coraçõezinhos, dizendo que nos ama.

Mas o que mais chama a atenção nela, de fato, é sua inteligência. Ficamos boquiabertos como ela entende tão rapidamente as coisas. É muito observadora também.

No quesito leitura, ela me disse que numa prova tirou nota 10,0. Lê perfeita e rapidamente, muito melhor que muitos adultos. Na verdade, tenho sempre a impressão de que ela só está relembrando as coisas e não descobrindo. Eu a identifico como uma criança índigo.

Sua ansiedade é literalmente gritante. Poucas vezes vi uma criança tão ansiosa. Ela chega a vomitar antes de um evento importante, sua frio e muitas vezes não consegue dormir. É muito 'agitada', nunca conseguindo ficar parada por muito tempo. Conversando com a gente ela se mexe e remexe o tempo inteiro. É falante e fala alto. 

Já trocou os quatro dentes incisivos (superiores e inferiores) e foi tão rápido que ela praticamente nem ficou banguela.


Adora cozinhar e sempre me convida para fazermos bolos ou muffins. Se irrita e frustra por não saber fazer mais coisas. Me contou que em sua casa ela apenas recolhe a roupa e lava a louça. Não sei se é bem assim, como ela conta, mas pelo menos sei que é o que ela gostaria de fazer.

Eu consegui no meu trabalho umas folhas grandes, para plantas de imóveis, e dei a ela para desenhar. Ela disse que adorou desenhar naquela folha grande e propus fazermos um desenho contornando o corpo dela. Ela aceitou e riu nervosamente durante todo o tempo que deitei ela por cima da folha e contornei seu 'corpinho'. Quando se levantou e viu o contorno, ficou muito ansiosa e disse: - “eu tô pelada! Eu tô pelada! Tem que botar uma roupa em mim!”

Na mesma rapidez com que falou, juntou a folha e correu para o meu quarto, pegou giz de cera vermelho e fez uma calça para si própria no desenho. Depois, mais calmamente, fez um rosto e por ultimo uma blusa. Os olhos sempre são arregalados (sinal de desconfiança) e a boca sorridente. Mas desta vez, depois de ver a boca sorridente, depois que pendurei o 'quadro', ela fez uma boca mais aberta e desenhou dentes, mas quis explicar que ela não era banguela, por isso os dentes. Dentes em desenhos de criança tem a ver com agressividade, mas no caso dela, acho que foi mais por que ela é muito detalhista, perfeccionista (como toda virginiana) e muito 'pé-no-chão', sempre querendo fazer tudo dentro da realidade, não se permitindo abstrações.

Desse jeitinho, Ana vai crescendo...

Passa tão rápido, não?...



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